3.1
Entram
Espoleta Júnior e um Pastor.
ESPOLETA
JÚNIOR
Oh,
meu senhor, se já sentiu a força do amor,
Tem
dó de mim.
PASTOR
Sim,
mesmo não tendo me casado, senhor,
Senti
a força do amor de moças de família,
E
algumas seguirão donzelas mais três anos.
O
senhor tem a licença?
ESPOLETA
JÚNIOR
Cá
está à mão, senhor.
PASTOR
Isso
é bom.
ESPOLETA
JÚNIOR
Anel
e tudo pronto. Ela já foge p'ra cá.
PASTOR
E
será bem-vinda, senhor; eu não tardarei
A
engatar1
aos dois.
Entram
Maria e Espoleta Sênior.
ESPOLETA
JÚNIOR
Oh,
ela vem chegando, senhor.
PASTOR
Ele,
quem é?
ESPOLETA
JÚNIOR
Meu
honesto irmão.
ESPOLETA
SÊNIOR
Rápido,
senhores!
MARIA
O
senhor deve proceder com celeridade,
Pois
darão por minha falta logo; foi difícil
Escapar
mesmo um instante.
PASTOR
Então,
sem
tardar,
Põe
este anel neste dedo anular,
Que
é ligado, segundo a tradição,
Pela
veia-mestra ao coração.
[Espoleta
Júnior põe o anel no dedo de Maria.]
Unam
as mãos...
Entram
Dourado e
Sir Walter.
DOURADO
Que
devo separar,2
E
nunca, nunca mais vão se encontrar!
MARIA
Oh,
fomos descobertos!
ESPOLETA
JÚNIOR
Que
golpe!
SIR
WALTER
Estou
estupefacto.
DOURADO
Era
esse seu estratagema, rapariga ocultista,
Sua
vadia desobediente!3
[A Sir Walter] O senhor
Inventou
de mandar buscá-la para um tal fim?
SIR
WALTER
Pois
eu renego o fim; o senhor quer me irritar.
DOURADO
[A Espoleta Júnior]
E
o senhor, quem é?
ESPOLETA
JÚNIOR
Se
não consegue enxergar
Com
essas duas lentes, coloque um par a mais.
DOURADO
Eu
mal conhecia a cólera! [A Espoleta Júnior] Toma seu anel.
[Remove
o anel do dedo de Maria.]
Como,
este? Céus,
mas é o mesmo! Abominável!
Eu
não lhe vendi este anel?
ESPOLETA
JÚNIOR
Imagino
que sim, recebeu dinheiro por ele.
DOURADO
Céus,
escuta, fidalgo,
Se
não temos
aqui uma
vilania sórdida:
Me
por a trabalhar no anel de casamento,
Tendo
vindo com o intento de me roubar a filha.
Algum
sedutor já fez algo assim?
SIR
WALTER [A Espoleta Sênior]
Este
é seu irmão, senhor?
ESPOLETA
SÊNIOR
Ele
lhe dirá tanto quanto eu.
DOURADO
Até
mesmo a inscrição goza da minha cara:
“Amor,
se for sagaz,
Cega
os olhos dos pais.”
Grato
pela sagacidade, senhor,
ao nos cegar;
Temos
esperança de recobrar a visão logo;
Enquanto
isso, vou trancar esta rapariga
Com
o mesmo zelo que ao ouro: verá
ela
Igualmente
pouco o sol, se um quarto trancado
Puder
privá-la
de sua luz.
MARIA
Oh,
doce pai,
Em
nome do amor, piedade!
DOURADO
Larga!
MARIA
[A Espoleta Júnior]
Senhor,
Adeus;
sê feliz, leva isto como conforto:
Embora
presa à força, tu
não ficarás
sem mim.
Serei
tua, mesmo apartados
até o fim.
DOURADO
Sim,
vamos apartá-los, bisca.
Saem
Dourado e
Maria.
SIR
WALTER
Demorou,
senhor,
Para
conhecê-lo, e que demorasse mais;
Doravante
não o reconheço como amigo,
Mas
alguém a quem evitar como a pestilência,
Ou
a doença da luxúria.4
ESPOLETA
JÚNIOR
É
bem provável, senhor; me encontrou na pior hora para palavras que
poderia escolher: de boa fé, não me leve a mal, senhor.
Saem
Espoleta Júnior e Pastor.
ESPOLETA
SÊNIOR
Protege-te
dele
e não
meças
esforços: lá vai
Alguém
que nunca vira afronta; as tuas bênçãos
Excedem
tudo que conheço.5
Vai repousar.
Sai.
SIR
WALTER
Eu
os perdoo, são ambos perdedores.
Sai.
1“A-clapping”
(1) unir as mãos, (2) sugestão de coito [LW]. Reaparece em
4.1.124.
2A
união das mãos era o que conferia valor legal ao casamento [LW].
3A
desobediência filial das mulheres se confundia com a promiscuidade
[LW].
4(1)
Luxúria como uma doença. (2) Doença venérea [LW].
5Ou
seja, é muita sorte sua escapar ileso após ofendê-lo [LW].
Nenhum comentário:
Postar um comentário