4.1
Entram
Tim e o Tutor.
TIM
TUTOR
Probo
tibi, aluno meu, stultus non est animal rationale.2
TIM
Falleris
sane.3
TUTOR
Quaeso
ut taceas: probo tibi.4
TIM
Quomodo
probas, domine?5
TUTOR
Stultus
non habet rationem, ergo non est animal rationale.6
TIM
Sic
argumentaris, domine: stultus non habet rationem, ergo non est animal
rationale.7
Negatur argumentum novamente, tutor meu.
TUTOR
Argumentum
iterum probo tibi, domine: qui non participat de ratione, nullo modo
potest vocari rationalibus, ocorre que stultus non
participat de ratione, ergo stultus nullo modo potest dicere
rationali.8
TIM
Participat.9
TUTOR
Sic
disputas: qui participat quomodo participat.10
TIM
Ut
homo, probabo tibi in syllogismo.11
TUTOR
Hunc
proba.12
TIM
Sic
probo, domine: stultus est homo sicut tu et ego sumus; homo est
animal rationale, sicut stultus est animal rationale.13
Entra
Rosinha.
ROSINHA
Nada
mais que disputações o dia todo, esses dois!
TUTOR
Sic
disputas: stultus est homo sicut tu et ego sum; homo
est animal rationale, sicut stultus est animal rationale.14
ROSINHA
Suas
razões são ambas boas, quaisquer que sejam;
Rogo
que as deixem de lado, vão se cansar;
Qual
é a questão entre vocês?
TIM
Nada
além de um debate sobre um tolo, mãe.
ROSINHA
Sobre
um tolo, filho? Ai de mim, que necessidade há de ocupar a cabeça
com isso? Não há um de nós que não saiba o que é um tolo.
TIM
Ora,
o que é um tolo, mãe? Eu lhe estendo a pergunta.
ROSINHA
Ora,
aquele que se casa antes de ter siso.
TIM
Boa
resposta, de verdade, bem pensada para uma mulher que nunca se
instruiu na universidade; mas traz aqui15
o tolo que for, mãe, e eu o provarei uma criatura tão razoável
quanto eu mesmo, ou meu tutor aqui.
ROSINHA
Tá
bom, é impossível.
TUTOR
Não,
ele consegue, garanto.
TIM
Tolo
é a coisa mais fácil de se provar, com lógica.16
Com
lógica eu provo qualquer coisa.
ROSINHA
Que!
Prova nada!
TIM
Eu
provo a honestidade de uma puta.
ROSINHA
Não,
por minha fé, ela mesma que prove isso,
Ou
a lógica não dará conta.
TIM
Dá
sim, estou dizendo.
ROSINHA
Alguns
nesta mesma rua dariam mil libras
P'ra
você provar isso das esposas.
TIM
Pois
eu posso,
E
todas as filhas também, mesmo com três bastardos.
Quando
vem cá seu alfaiate?
ROSINHA
Por
que, que tem ele?
TIM
Com
lógica, eu provo que ele é um homem,17
Que
venha a hora que quiser.
ROSINHA [Ao
Tutor]
Como
foi difícil seu aprendizado no começo! De fato, senhor, pensei que
nunca ia captar essa língua latina. Quantos livros de declinação
pensa que ele gastou antes de chegar aos de gramática?
TUTOR
Uns
três ou quatro.
ROSINHA
Acredite,
senhor, uns trinta e quatro.
TIM
ROSINHA
Ele
passou
oito anos na gramática dele,
e empacou horrivelmente
em uma parte estúpida lá, chamada “asno”
praesenti.19
TIM
Rá!
Tenho ela aqui, agora. [Aponta
para a testa.]
ROSINHA
Ele
uma vez me envergonhou tanto na frente de um honesto cavalheiro que
me conheceu20
quando eu era donzela.
TIM
Essas
mulheres precisam por tudo p'ra fora!
ROSINHA
“Quid
est grammatica?”21
diz-lhe
o cavalheiro – eu
me recordo por um doce, doce detalhe – mas ele nada pôde
responder.
TUTOR
E
agora, aluno meu, quid
est grammatica?
TIM
Grammatica?
Ha, ha, ha.
ROSINHA
Ora,
não ria, filho, diz logo que eu quero ouvir: tinha uma palavra que
saía tão bonita da língua do
cavalheiro, vou me lembrar enquanto viver.
TUTOR
Vamos, quid
est grammatica?
TIM
Não
se envergonha, tutor? Grammatica?
Ora, ars
scribendi atque loquendi rectum22,
com perdão de minha mãe.
ROSINHA
Era
isso mesmo! Pois bem, filho, vejo que virou um sábio acadêmico. E,
senhor
Tutor, uma palavra, eu lhe rogo. [À
parte ao Tutor]
Vamos
nos recolher ao quarto de meu marido. Vou mandar a nobre dama do
Norte de Gales até ele, ela anseia por ser cortejada. Vou por os
dois juntos e trancar a porta.
TUTOR
A
conclusão da senhora está aprovada com mérito.
Saem
Rosinha e Tutor.
TIM
Me
intriga o que essa tal nobre dama possa ser, que eu devo desposar. É
uma estranha para mim.
Me
pergunto o que tencionam meus pais, de verdade,
Ao
me unir a uma estranha assim,
Uma
moça que não é vizinha nem parente.
Por
minha vida, pensam eles que dou tal valor a meu corpo a ponto de me
deitar com alguém que nunca conheci, uma mera estranha, alguém que
tampouco foi à escola comigo, com quem nunca brinquei junto?23
Uma
imprudência da parte deles, eu acho.
Eles
dizem que ela tem monanhas por dote;
Agora,
qual será o sentido de “boizanão”,
Meu
tutor não sabe me dizer.
Eu
consultei o Dicionário de
Latim25
na letra B,
e nem notícia desses
“boizanões”
lá também; a menos que sejam leitões
de Romford26,
sei
lá o que são.
Entra
a Dama Galesa.
E
lá vem ela. Se eu sei o que dizer a ela agora com vistas
a casamento, não sou graduado algum.
Acho,
na verdade, muita ousadia dela
Adentrar
meu quarto não passando de uma estranha;
Ela
não poderá dizer que sou orgulhoso, falarei com ela; afe, do meu
jeito, ela não
vai alcançar minhas palavras, garanto a ela.
[A
Dama Galesa faz uma mesura.]
Ela
me olha e faz mesura! [A
ela]
Salve
tu quoque puella pulcherrima,
quid
vis nescio nec
sane
curo,27
– frase do próprio Cícero,28
e de cor!
DAMA
GALESA
[À
parte]
Não
faço ideia do que diz: isso lá é corte?
Aposto
a minha vida que não entende inglês.
TIM
DAMA
GALESA
[À
parte] Que é isso de abundundis maximis? Na certa
caçoa de mim, e me chama de bunduda.30
TIM
[À
parte]
Agora
não tenho palavra latina pros
“boizanões”
deles; vou improvisar alguma coisa: [A
ela]
Iterum
dico, opibus abundis
maximis montibus et fontibus et, ut ita dicam, "boizananibus";
attamen vero homunculus
ego sum natura, simul et
arte bachalareus,
lecto profecto non paratus.31
DAMA
GALESA
[À
parte]
Isto
é muito estranho; quem sabe fale
galês.
TIM
[À
parte]
Fo
gennuf?
Eu desdenho de “foguer”
com ela, vou dizer isso, em uma palavra próxima a
sua
língua;
[A
ela]
Ego
non fogo.33
DAMA
GALESA
TIM
[À
parte]
Por
minha fé, ela é boa acadêmica, já vejo isso: está claro que tem
jeito com línguas; aposto minha
vida que ela
é
muito rodada. Que dirá a gente? “Lá vai o douto
casal”!
Poxa,
se fosse revelado que ela pôs a mão num canudo!35
Entra
Rosinha.
ROSINHA
Pois
bem, a quantas anda este negócio?
TIM [À
parte]
Que
bom que minha mãe venha nos apartar.
ROSINHA [À
Dama Galesa]
Como
se entendem vocês dois, me digam?
DAMA
GALESA
Tão
bem quanto antes de travar conhecimento.
ROSINHA
Como
assim?
DAMA
GALESA
A
senhora me apresenta um homem que não entendo;
Seu
filho não é inglês, é o que eu penso.
ROSINHA
Não
é inglês?
Bendito
seja, nascido no coração de Londres!
DAMA
GALESA
Estou
há tempo suficiente no quarto com ele,
E
não posso extrair dele nem galês, nem inglês.
ROSINHA
Ué,
Tim, como você se portou ante a nobre dama?
TIM
Do
melhor modo que pode um homem, mãe, em latim modesto.
ROSINHA
Latim,
seu tolo?
TIM
E
ela redarguiu em hebraico.
ROSINHA
Em
hebraico, seu tolo? É galês!
TIM
Dá
na mesma, mãe.
ROSINHA
Ela
fala inglês, também.
TIM
E
quem me disse isso?
Núpcias;
achei
que ela fosse uma estrangeira.
ROSINHA [À
Dama Galesa]
Você
o perdoe: tão aclimatado ao latim,
Ele
e o tutor, que já quase se esqueceu por
completo
De
usar a língua protestante.
DAMA
GALESA
Já
está perdoado, acredite.
ROSINHA
Tim,
repara seu erro e beija ela. [À Dama Galesa] Ele se aproxima
de você, não vê?
Tim
beija a Dama Galesa.
TIM
Oh,
que delícia! Dá p'ra saber sua origem37
pelo beijo; é um dito acertado: “Nada tem um gosto tão bom quanto
uma ovelhinha38
galesa.” [À
Dama Galesa]
Foi
dito que a senhorita
tem
um
vasto repertório.39
ROSINHA
Como
poucas, Tim, as mais doces canções bretãs.
TIM
E
é minha ideia, juro, antes de casar,
Ver
duma vez as melhores partes40
da esposa,
A
fortuna que me cabe.
ROSINHA
Vai
ouvir doce música, Tim.
[À
Dama Galesa] Eu lhe rogo.
Cupido
é de Vênus todo
orgulho,
Mas
é um guri levado do barulho;
Um
guri
tão levado, do barulho!
Flecha
o seio nu das adolescentes;
Quanto
aos homens, ele lhes faz crescentes.
Eu
quero dizer na testa,
Não
se vê, mas se detesta.
Foi
o primeiro a pensar o meio
De'a
lábios de moças dar
bom
recreio.
Por
que Vênus o
filho não
afronta,
Pelas
travessuras que ele apronta,
As
marotas
travessuras que'apronta?
Atira
ele
tanta seta
em chamas,
Que
acertam as moças em suas camas;
Oh,
céus, que golpe penetrante!
A
seta dele é tão debilitante,
Que
sumiriam logo vida e razão,
Não
fosse ele aguçar a ação.
Pode
ser do paraíso o ensejo
Um
simples breve e fugaz beijo,
Um
simples breve, breve, fugaz beijo?
Pro
prazer, demorar é desperdício,
Um
só beijo faz todo um rebuliço.
Precisaram
antes deixar de sê-lo.
Único
passatempo que conhecem
Que
de cima
abaixo
se reconhecem.
TIM
Não
trocaria esta minha esposa por um reino;
Eu
não
faço mal
também, mas
só quando escondido.
Entram
Dourado
e Amâncio, disfarçado.
DOURADO
Ora,
disse bem, Tim! sinos tocam docemente,
Cá
um cavalheiro estranho quer falar em privado.
Saem
Rosinha, Tim e Dama Galesa.
És
bem-vindo, senhor, ainda mais pelo nome,
Bom
senhor Dourado; pois quero bem a meu próprio nome:
E
de quais dos Dourados seria o senhor descendente,
Se
é que posso ousar perguntar, de quais, eu lhe rogo?
AMÂNCIO
Os
Dourados de Oxfordshire, ali perto de Abbington.44
DOURADO
São
esses os melhores Dourados, e os mais bem criados;
Eu
mesmo vim de lá, embora seja já cidadão45.
Sem
cerimônia, o senhor é muito bem-vindo.
AMÂNCIO
Minha
esperança é que meu zelo assim mereça.
DOURADO
Não
espero menos: que deseja, senhor?
AMÂNCIO
Eu
sei, só por rumores, que o senhor tem uma filha,
Que
eu, por audaz amor, passo a chamar de “prima”.46
DOURADO
Sou
grato por ela, senhor.
AMÂNCIO
Soube
de suas virtudes e demais graças incontestes.
DOURADO
Uma
garota custosa, senhor!
AMÂNCIO
Pois
a fama a veste de mais ricos ornamentos
Do
que o senhor escolhe se gabar; é pura modéstia:
Ouvi
que vai se casar.
DOURADO
Ouviu
a verdade, senhor.
AMÂNCIO
Com
um fidalgo recém-chegado, Sir Walter Cachorrão.
DOURADO
Ele
mesmo, senhor.
AMÂNCIO
Pois
eu só posso lamentar muito.
DOURADO
Lamentar?
Por quê, primo?
AMÂNCIO
Não
será já tarde demais? Pode ainda ser cancelado?
DOURADO
Cancelado?
Por quê, bom senhor?
AMÂNCIO
Só
me esclarece este
ponto, num instante eu lhe digo.
DOURADO
Não
se firmou contrato.
AMÂNCIO
Fico
muito feliz, senhor.
DOURADO
Mas
é ele o homem pro seu leito.
AMÂNCIO
De
modo algum, primo, será a ruína dela,
E
o senhor se arrependerá de formar um tal par;
Ele
é um libertino sem remissão, gasta tempo e fortuna
[Com
uma certa dama aqui da redondeza,]47
Que,
pelo que sei, ele tem mantido faz sete anos;
Olha,
primo, e esposa de outro homem!
DOURADO
Mas
é abominável!
AMÂNCIO
Mantém
todo o lar, o vestuário do marido,
Paga
a féria dos criados, não muito, mas... 48
DOURADO
Isso
só fica pior! E o marido sabe?
AMÂNCIO
Sabe?
Sim, e feliz por saber, é seu sustento;
Como
prosperam outros ramos, açougueiros com carne,
DOURADO
Que
incomparável corno manso será esse?
AMÂNCIO
Ih,
que liga ele p'ra isso? Pode crer, primo,
Não
mais que eu.
DOURADO
Que
escravo rasteiro será esse?
AMÂNCIO
Nada
lhe importa; ele tem repasto e repouso,
Nunca
foi homem de interromper o próprio sono
Para
gerar um filho de sua própria lavra,
Mesmo
assim, a esposa tem sete.
DOURADO
Que!
De Sir Walter?
AMÂNCIO
Sir
Walter, é certo, a eles provém e sustenta
Com
todo fausto; e não faria menos, senhor.
DOURADO
Por
minha vida, filhos também?
AMÂNCIO
Filhos?
Desta altura,
Já
às voltas com Catão e Cordélio.50
DOURADO
Que!
É troça, senhor?!
AMÂNCIO
Pois!
Um sabe fazer versos,
E
estuda agora no Eton College.51
DOURADO
Oh,
esta notícia me corta o coração, primo.
AMÂNCIO
Cortaria
mais fundo se tardasse mais a vir à tona.
Mulher
dum tal Amâncio.
DOURADO
Amâncio?
Céus, não me é estranho;
Ele
batizou uma neném há pouco?
AMÂNCIO
Sim,
tal obra
Custou
ao tal fidalgo acima de cem marcos.
DOURADO
Vou
marcá-lo como um pulha e um vilão por isso.
Mil
graças e bençãos; está tudo terminado com ele.
AMÂNCIO
[À
parte] Ha, ha, ha, eu tenho este fidalgo no cabresto;
Não
escapa ainda, esposa alguma terá;
Corteja
por aí, mas lá em casa seguirá. Ha, ha!
Sai.
DOURADO
Bem,
que seja verdade, que sua vida é obscura,
Pois
que é casamento, senão desse mal a cura?
Eu
mesmo mantive amásia, e gerei um bastardo,
Na
senhorita Anna, no anno [ ].52
Que
me importa quem saiba; é agora um belo mancebo,
São
só gerados na infâmia, como eu gerei aquele.
O
fidalgo é rico, é certo que será meu genro.
Não
importa, desde que sua amásia esteja íntegra:55
Minha
filha nada sofre. Que se casem, então;
Vou
fazê-lo se tratar56
antes da consumação.
Entra
Rosinha.
ROSINHA
Oh,
marido meu!
DOURADO
Que
houve, Rosinha?
ROSINHA
É
o nosso fim! Ela fugiu, fugiu!
DOURADO
De
novo? Pela morte! Por onde?
ROSINHA
Pelos
quintais.57
Põe
guarda no cais, ou nós a perderemos p'ra sempre.
DOURADO
Que
rapariga audaz!
Saem
Dourado e Rosinha.58
Entram Tim e o Tutor.
TIM
Ladrões!
Minha irmã foi roubada! Algum ladrão a levou;
Oh,
que milagre que a baixela de meu pai tenha escapado!
Estava
toda exposta, Tutor.
TUTOR
Será
possível?
TIM
Fora
três colares de pérola e a caixa de coral.
Minha
mãe foi lá vigiar as escadas
públicas
Rio
abaixo, está meu pobre pai. Corre, doce Tutor!
Saem.
1“Argumento
negado”
2“Provo
a ti... o tolo não é um animal racional.”
3“Falharás
na certa.”
4“Peço
que te cales, provo a ti.”
5“De
que maneira provas, senhor?”
6“O
tolo é desprovido da razão, por conseguinte não é um animal
racional.”
7“Assim
argumentas, senhor: o tolo é desprovido de razão, por conseguinte
não é um animal racional.”
8“Torno
a provar-te o argumento, senhor: a quem é desprovido da razão não
se pode de modo algum chamar racional... o tolo não compartilha da
razão, e por conseguinte do tolo de modo algum se pode dizer que é
racional.” Há erros em “rationalibus” (rationalis) e
“dicere” (dici) [LW].
9“Compartilha.”
10“É
o que contestas: quem compartilha e como compartilha?”.
11“Como
homem; provo-te com um silogismo.”
12“Prova-o.”
13“Provo
da seguinte maneira, senhor: o tolo é um homem como somos tu e eu;
o homem é um animal racional, desse modo o tolo é um animal
racional.”
14“É
o que contestas: o tolo é um homem como somos tu e eu; o homem é
um animal racional, desse modo o tolo é um animal racional.”
15Na
verdade, “bring forth” sugere também “parir” apontando para
ele mesmo [L&T].
16(1)
É fácil provar que um tolo é um animal racional, (2) É fácil
fazer-se de tolo afetando saber lógica [LW].
17Alfaiates
tinham reputação tanto de efeminados quanto de aproveitadores da
intimidade com as mulheres que o ofício confere (ver 2.2.14) [AB].
18Passagem
difícil, “I made haberdines of 'em in church porches.”
provavelmente alude ao costume de colar recortes em forma de arenque
no boneco chamado Jack-a-Lent [AB], mas pode apontar alguma
brincadeira infantil [LW].
19“As
in praesenti”: fórmula presente no Brevissima Institutio,
de Lyly e Colet (1549), um livro-texto de latim popular
[L&T]. Embora as três edições apontem jogo com ass=arse
(traseiro), aqui prevalece “asno”. Ver 4.1.62 e nota [LA].
20Brinca-se
com o sentido biblico de “conhecer”: ter relações sexuais [GW
“know”].
21“O
que é gramática?”
22Latim
errado para “a arte de corretamente escrever e falar”. No
original, “recte scribendi atque loquendi ars”,
aproveita-se o trocadilho com “arse”, traseiro; sacrificou-se o
latim de Tim (já imperfeito), adaptando a sugestão anatômica em
“rectum”.
23Sugerem-se
jogos sexuais homosexuais de iniciação [LA].
24“Runt”
designa uma raça bovina anã comum em Gales e na Escócia [LW].
25Rider's
Dicionary, dicionário latim/inglês publicado em 1589 por John
Rider [LW].
26Romford,
19km a nordeste de Londres, famosa pela feira de leitões, e outro
destino de amantes furtivos [LW].
27“Salve
a ti também mui bela jovem, o que queres não sei, nem de fato me
importa.”
28“Tully”,
apelido por que Marcus Tulius Cícero era conhecido [LW]. A
atribuição de Tim é obviamente absurda [LA].
29“Dizem
- por Hércules! - virgem, que tua fortuna abunda em Gales.”;
“abundis” é um erro para “abundas” [LA].
30Adapta-se
“bundle of farts”, fardo de peidos, trocadilho com “fertur”
e “abundundis”
31“Novamente
digo que abundas em riquezas, em montes e fontes e, como posso
dizer, 'boizanões' [cunhando 'boizananibus']; no entanto, a verdade
é que sou um homúnculo por natureza e ao mesmo tempo bacharel por
formação, certamente despreparado para o leito nupcial.”
32“O
senhor fala galês? Por Deus, estará fingindo comigo?”
33“Ego
non cogo”, brinca com “cog” que podia apontar (1) enganar, (2)
copular [LW] (daí “foguer”).
34“Um
pouco de queijo e soro depois de uma caminhada.”, considerados a
dieta básica dos galeses [LW].
35Há
sugestões sexuais em “travel” (viajar/ter experiência/parir) e
em “proceed” (formar-se/perder a virgindade) [LW]. Lembrar que
mulheres não iam à universidade [LA].
36“Clap”
: juntar as mãos no matrimônio, sugerindo [LW/L&T] gonorreia,
ou [AB] sífilis; [GW] define “clap” como “contratempo
sexual”, donde viria a gíria atual para gonorreia. A
diferenciação clínica entre as duas doenças, no entanto, só
ocorreu no século XIX [LA].
37Em
“country”, joga-se com “cunt”, vagina, e “kissing”
sugere cópula [GW “cunt”, “kiss”]. Ver Hamlet 3.2.11.
38Gales
era famosa pela pecuária ovina. “Mutton” era gíria para
prostituta ou mulher experiente [LW].
39Adaptação
para “sing”: (1) cantar, (2) copular [GW].
40(1)
Qualidades, (2) Partes pudendas [GW].
41Gales
era associada à canção (1 Henry IV ,
3.1.240sd).
Middleton retoma esta em More Dissemblers Besides Women.
42Linha
aparentemente perdida ou censurada, suprida por conjectura.
43Aqui,
conforme a opção por “peals a'life” ou “peals o'life”,
interpreta-se o trecho como “amo estes dobres como minha vida”
[L&T] ou “amo estes dobres da vida” indicando a maturação
sexual de Tim [LW].
44Abingdon,
no condado de Berkshire [L&T].
45“Citizen”:
(1) cidadão londrino, (2) membro da classe média (mercadores e
artesãos bem sucedidos) [LW].
46A
ironia com o sentido de “prostituta” é incidental do português
brasileiro.
47Linha
aparentemente perdida, suprida por conjectura.
48Passagem
truncada, possivelmente censurada.
49“Poulters”/“granjeiros”
negociavam aves e caça; nome associado à cafetinagem, como o sexo
à carne, novamente [LW].
50Livros
ecolares caros aos puritanos: Disticha de Moribus (c. 300),
de Dionysius Cato, e Colloquia Scolastica (1564), de Mathurin
Cordier [AB].
51Prestigioso
internato fundado em 1440 por Henrique VI [AB]. “College” não
designa ensino superior [LA].
52No
espaço em que o ano seria dito, há uma lacuna, que pode indicar
uma abertura para mudanças, ou censura. Pode-se conjecturar que
fosse uma provocação a alguma personalidade, talvez o próprio
censor (Master of the Revels) [LA].
53“Warden”
(1) membro de guilda, (2) um tipo de pêra, daí o jogo com “frutos”
[LW].
54Os
bastardos de Sir Walter.
55Livre
de doença venérea.
56“Sweat
well”: tratamento por vapor de mercúrio para a sífilis [GW
“sweat”].
57“Over
the houses” levou [LW e L&T] a assumirem uma fuga pelos
telhados; no entanto, “over” também significa “através”
(OED.4) e não apenas “por sobre”. Como há sugestões de uma
fuga improvável e desagradável em 3.3.30-34, 4.2.26 e 4.3.8-9,
Rosinha parece usar um eufemismo, talvez porque a fuga foi pelo
esgoto. Isso se conformaria com as imagens de líquidos na peça.
Outra dificuldade é a palavra “gutter” ser tanto “calha”
quanto “sarjeta, vala”; considerou-se que a mesma palavra sugere
ainda a fissura das nádegas quando usada junto a “vias ocultas”
em 3.3.30 [LA].
58Alguns
editores introduzem uma divisão de cena aqui. A ação, no entanto,
é contínua.
59Trig
Stairs: escadas até o Tâmisa. “Trig” aponta para “coxcomb”:
tolo (e assim, para Tim) [LW].
60Puddle
Wharf: originalmente um nome próprio, “puddle” passou a se
referir às poças deixadas pelos cavalos. Já a referência a “dock
below” (a doca rio abaixo) aponta provavelmente a Dung Wharf,
(“dung” = esterco) onde os rejeitos da cidade eram embarcados
[LW].
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